quarta-feira, 6 de julho de 2011

Processos de gramaticalização

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM LETRAS E LINGUÍSTICA
MATÉRIA: TÓPICOS EM DIACRONIA


SEMINÁRIO

UM ESTUDO DOS PROCESSOS DE GRAMATICALIZAÇÃO


POR



RITA DE CASSIA SANTANA DOS SANTOS
Professora Dra. Rosauta Maria Galvão Fagundes Poggio


SALVADOR/2011




INTRODUÇÃO


1. FUNCIONALISMO
1.1 Funcionalismo na língua falada
1.1.1 Função lingüística
1.1.2 Direção da gramática funcional

2. GRAMATICALIZAÇÃO
2.1 Histórico
2.1.1 Processos e princípios da Gramaticalização

3. TEORIA LOCALISTA
4. TEORIA DOS PROTÓTIPOS
5. GRAMATICALIZAÇÃO DA PREPOSIÇÃO ANTE
6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA







INTRODUÇÃO


As línguas humanas mudam com o passar dos tempos (FARACO, 1991, p. 9), posto que elas sejam dinâmicas. A língua muda e nós, os falantes, a utilizamos de forma tão casual, que não percebemos sua mudança; essa mudança se dá através dos séculos em parte da língua e não na sua totalidade.
Devemos observar que a língua padrão ensinada nas escolas nos dá a sensação, e, para muitos, a certeza de que nossa língua seja estática; tal fator fez com que as mudanças na língua parecessem inexistentes e para que sejam percebidas pelo falante, basta que ele tenha acesso à leitura de textos mais antigos em sua própria língua.
Tal situação evidencia que a língua se transforma com o passar do tempo, o que significa que estruturas e palavras que existiam caem em desuso e deixam de ser utilizadas, ou, então, são usadas de outra forma, função e/ou significado.
Atualmente, o interesse pelo estudo da mudança lingüística e, especialmente, pelo estudo da gramaticalização cresce cada vez mais e tem sido estudado por vários lingüistas nos últimos anos, despertando assim o interesse dos funcionalistas que observam a ligação e interdependência entre sincronia e diacronia no estudo de tal processo.
A gramática funcional, por concentrar-se na língua falada, parte da observação das significações das expressões lingüísticas e procura estudar seus códigos gramaticais.

S. Svorou (1993: 102 – 103), nos expõe a necessidade de investigar a história das formas gramaticais, para explicar suas variações e também para uma reflexão dos aspectos mais profundos da interação social e dos aspectos da construção cognitiva dos seres humanos.



1. FUNCIONALISMO


O Funcionalismo teve início no fim da década de 30, na escola Lingüística de Praga. A partir daí, essa idéia se espalhou pelo mundo, conquistando muitos adeptos. Embora seja difícil estabelecer um conceito de funcionalismo que incorpore todas as vertentes desse estudo, vê-se que o que há de comum entre elas é o interesse pelo estudo da competência comunicativa. No Brasil, muitos estudiosos tem se interessado por essa teoria, tais como: Maria Helena de M. Neves, Ataliba de Castilho (São Paulo), A. Naro, S. Votre, Maria Luiza Braga (Rio de Janeiro) e na Universidade Federal da Bahia (Salvador), no Instituto de Letras as professoras Doutoras Rosauta Poggio1 e Terezinha Barreto tem um estudo apurado sobre o assunto.
O Funcionalismo está ligado também ao estudo “Histórico dos fatos lingüísticos”. A teoria do funcionalismo procura tornar clara a forma como o uso da língua e sua função variam no tempo.
O objetivo principal do funcionalismo é o estudo da comunicação utilizada entre os usuários da língua, embora quando pensamos em comunicação, entendamos um caminho amplo e vasto que passa pela semiótica e demais formas de comunicação além da língua. Sabe-se, porém, que o falante entende o seu mundo não somente através da língua.
Em meio à década de 70, um grupo de lingüistas voltou a estudar o funcionalismo, aplicando-o à sintaxe.
O Funcionalismo parte do estudo das funções de todos os elementos da sentença em um discurso e todas elas como um elo organizado.
Todos os lingüistas desse grupo são funcionalistas porque todos tentam “ definir as funções desempenhadas pela língua”.
A concepção da “função comunicativa da língua” foi enriquecedora aos estudos do funcionalismo nesses últimos anos.

1 PROCESSOS DE GRAMATICALIZAÇÃO DE PREPOSIÇÕES DO LATIM AO PORTUGUÊS, EDUFBA.
1.1 Funcionalismo na língua falada

Graças aos estudos dos trabalhos realizados por Saussure, constatou-se a “divisão das águas” entre o período que a língua era entendida como expressão do pensamento e entendida como comunicação. De acordo com a Escola de Praga, é na interação verbal do falante que encontramos “noções distintas da comunicação”.
Para um estudo mais detalhado da linguagem oral, devemos, segundo alguns lingüistas, observar “processos lingüísticos documentados”, visto que a língua falada está sempre em atividade.
Segundo Rosauta Poggio (2002, p. 30), no centro da investigação funcionalista, há temas muito discutidos e pesquisados, como:
• Relação entre discurso e gramática;
• Liberdade organizacional do falante dentro das restrições construcionais;
• Distribuição de informação e fluxo de atenção;
• Gramaticalização;
• Motivação icônica e competições de motivações;
• Fluidez das categorias (teoria dos protótipos);
• Consideração do dinamismo da língua.
A gramática funcional tenta, a partir da expressão do falante, integrar o que é dito à gramática com uma função específica. Tal gramática busca a integração do falante e não a sua marginalização lingüística.
Ao descobrir uma mudança na língua falada (GF), tenta-se buscar e explicar a funcionalidade dessa mudança.
Se o falante, ao modificar a estrutura da língua, não interromper a comunicação, isso pode significar que não há erro de linguagem. È o processo de gramaticalização que estuda essas mudanças, parte a parte, verificando sua função em cada momento histórico.
A gramática funcional, por equilibrar o geral e o particular, torna-se aceitável em todas as línguas e não somente na língua portuguesa.

1.1.1 Função lingüística

A priori, entendemos como função a representação ou significado de determinada palavra dentro de um contexto.
Na teoria funcionalista, podemos observar dois sentidos para a expressão Função lingüística:
a) função como relação estabelecida entre elementos: alguns lingüistas, entre eles A. Martineli e F. de Saussure, afirmam que expressão e conteúdo não tem existência na língua, se não houver relação entre eles. C. J. Fillmore e N. Chomsky levam em conta a relação entre os elementos da língua, já C. der Groot destaca três tipos de níveis de função: semântica, sintática e pragmática.
b) função como finalidade dos atos lingüísticos: essa definição é menos antiga que a anterior e foi defendida por K. Bühler, R. Jakobson e M.A.K. Halliday. Esse último destaca as funções ideacionais, interpessoal e textual.

1.1.2 Direção da gramática funcional:

Competência comunicativa refere-se á capacidade que os indivíduos possuem de realizar a comunicação de forma satisfatória, independente de realizar estruturas perfeitas de linguagem, levando em consideração três aspectos, segundo a gramática funcional:
• capacidade de criar sentido e processar a informação;
• capacidade de criação textual;
• capacidade de promover a interação textual.
Existe um Projeto da Gramática do Português Falado cujos pesquisadores muito contribuíram com o estudo da predicação que se iniciou com a análise dos advérbios, dos adjetivos e dos verbos.
Foricidade – é feita através dos pronomes pessoais, demonstrativos, possessivos e relativos e, segundo Castilho, diz respeito a um processo semântico – textual que retoma os conteúdos verbais referidos no texto, ou inseridos no ato da fala, trazendo-os à memória.
Referência – segundo Halliday Hasan é um processo de coesão textual em que se distinguem três tipos: referência pessoal (pronomes pessoais e possessivos); referência demonstrativa (artigos, demonstrativos e advérbios de lugar e de tempo) e uma referência comparativa (assim, como, tal).

2. GRAMATICALIZAÇÃO

No âmbito do funcionalismo, encontra-se a gramaticalização como foco principal e discutível. A partir dos estudos da gramaticalização, a gramática tradicional deve ser reformulada, devido ao novo enfoque dado às mudanças lingüísticas.
Ao se estudar a gramaticalização, deve-se enfatizar os seguintes tópicos: conceito, histórico, processos e princípios.
Há diversos conceitos de gramaticalização, sendo também difícil entre os estudiosos um termo para designá-la. Muitas são as denominações para tal processo, a saber: esvaimento semântico, condensação, redução, morfologização, sintaticização, entre outras. Foi Antoine Meillet, em 1912 (1948), quem primeiro utilizou o termo gramaticalização, referindo-se à atribuição de um caráter gramatical a uma palavra que antes era autônoma (processo diacrônico).




2.1 Histórico

Antes de 1970, um grupo de estudiosos, entre eles J. Kurylowicz, G. Sankoff e J. Bybee, conceberam o conceito de gramaticalização como sendo um processo através do qual uma unidade léxica ou uma estrutura léxica assume uma função gramatical. O item lexical vai de uma classe aberta para uma classe fechada (POGGIO, 2002, p. 60).
Em 1970, alguns lingüistas, entre eles, T. Givón e J. Dubois operam com o discurso e a gramática (POGGIO, 2002, p. 60).
Nas décadas de 80 e 90, a cognição tornou-se o centro das pesquisas de alguns lingüistas, como: E. Sweetser (1988), Heine, Claudi e Hünnemeyer (1991), S. Svorou (1993), entre outros. Nesse caso, a gramaticalização passa a ser estudada, privilegiando as alterações semânticas.
Os estudos da gramaticalização, sob a perspectiva da história da lingüística, são vistos sob três direções:
• Tipologia linguística – por sugestão do filósofo e humanista alemão W. Von Humboldt (1822), a língua era expressa a partir de idéias concretas e dessas idéias a gramática evoluiu pelos estágios pragmático, sintático, de aglutinação e morfológico.
• Sintaxe conversacional – (1921) a organização da gramática surge a partir do falante, emergindo das falas.
• Mudança linguística – a partir da idéia de estudiosos do século XVIII, a complexidade gramatical teve origem em um vocabulário anterior concreto e individual.
Hom Tooke (apud POGGIO, 2002, p. 65), em seus estudos de 1786 a 1805, propõe a divisão entre Nome e Verbo, que seriam as palavras essenciais do discurso e demais classes de palavras, como: conjunções, advérbios e preposições, que decorreriam de mutilações, abreviaturas de palavras necessárias.
No século XIX, os neogramáticos estudavam a gramaticalização como um parâmetro para explicar a lingüística diacrônica.

2.1.1 Processos e princípios da Gramaticalização

A gramaticalização pode ser estudada por duas vertentes: a do léxico /etimológico e a do discurso/texto.
Para entendermos os estágios ou processos da gramaticalização, se faz necessário observarmos o seguinte esquema:

Gramaticalização

Os princípios da gramaticalização diferem de lingüista para lingüista e destaca-se, segundo poggio (1999, p. 148), a seguir, a perspectiva de C. Lehmann (1982) que considera os seguintes princípios:
• Paradigmatização
• Obrigatoriedade
• Condensação coalescência
• Fixação
Para P. J. Hopper (1991) são importantes os princípios:
• Estratificação
• Divergência
• Especialização
• Persistência
• Descategorização
A. De Castilho (1997, p. 52) aponta os princípios de:
• Paradigmatização e analogia
• Sintagmatização e reanálise
• Continuidade e gradualismo
• Unidirecionalidade
Muitos autores tentam explicar os diferentes graus de gramaticalização, mas C. Lehmann (1982) propõe critérios ou parâmetros para medir o grau de gramaticalização que parecem ser os mais apropriados, em vista de se poder utilizá-los em uma perspectiva sincrônica e diacrônica.
Gramaticalização:
Gramaticalização é o trajeto empreendido por um item lexical, ao longo do qual ele muda de categoria sintática (= recategorização), recebe propriedades funcionais na sentença, sofre alterações morfológicas, fonológicas e semânticas, deixa de ser uma forma livre , estágio em que pode até mesmo desaparecer, como conseqüência de uma cristalização extrema (CASTILHO 1997, p. 31).







3. TEORIA LOCALISTA

A teoria localista é uma teoria semântica que parte da idéia de que todos os itens gramaticais expressam, inicialmente, acepção espacial, em seguida, noções temporais e, finalmente, passam a exprimir idéias mais abstratas.
Localismo – segundo B. Pottier (1962), a preposição pode ser estudada, em um primeiro momento, nos três semas genéricos: espaço, tempo e noção e, em um segundo momento, essas três dimensões podem ser estudadas de forma equivalente.
A hipótese localista, em sua versão inicial, propõe que as expressões temporais originam-se de expressões locativas, ou seja, todas as preposições temporais em inglês são provenientes de preposições espaciais. E o que é verdadeiro para as preposições, é verdadeiro para a maioria dos verbos.
Segundo J. Lyons (1980, v.2, p. 339), os localistas entendem que a localização espacial é mais concreta do que a temporal e a temporal mais concreta do que os demais tipos abstratos de localização.
Segundo Rosauta Poggio (2002, p. 40), esse estudo não se refere apenas a expressão
direcionais opostas, como diante de/atrás de e alto/baixo, mas também à orientação à localização ou ao deslocamento de outros objetos no mundo exterior. O emprego de certas preposições, verbos e advérbios, em francês, fornece muitos exemplos. Se se julga x melhor do que y, ou que ele o precede. Dizer que x tornou-se y ou adquiriu z equivale a dizer, na interpretação localista, que x passou do estado de não ser y ou de não ter z ao estado de ser y ou de ter z.




4. TEORIA DOS PROTÓTIPOS

A linguística cognitiva surgiu nos finais da década de 70 e princípios da década de 80 e se institucionalizou em 1990. Por um lado, foi impulsionada pelo interesse em relação ao fenômeno da significação (já evidenciado pelo movimento da Semântica Gerativa) e pela investigação psicolingüística de Eleonor Rosh (ROSH 1978;ROSH &MERVIS 1975) sobre o papel fundamental dos protótipos no processo de categorização, com a criação da International Cognitive Linguistics Association, da revista Cognitive Linguistics ( dirigida por Dirk Geeraerts) e da coleção Cognitive Linguistics Research ( editada por René Dirven e Ronald Langacker e publicada por Mouton de Gruyter). Na Europa ,no entanto, há importantes trabalhos e centros de investigação, em particular, na Bélgica e na Holanda.
Do ponto de vista da Linguística Cognitiva, a linguagem é meio de conhecimento, em conexão com a experiência humana do mundo. As unidades e estruturas da linguagem são analisadas, não como entidades autônomas, mas como manifestações de capacidades cognitivas gerais da organização conceptual, de princípios de categorização, de mecanismos de processamentos e da experiência cultural, social e individual. São temas de especial interesse da Linguística Cognitiva, os seguintes: os princípios funcionais da organização linguística (iconicidade e naturalidade), a interface conceptual entre sintaxe e semântica, a relação entre linguagem e pensamento e as características estruturais da categorização linguística, tais como a prototipicidade.
De acordo com o modelo clássico de categorização, o significado das palavras é baseado numa estrutura de atributos necessários e suficientes para se constituir a essência da entidade ou do conceito com os quais associamos a palavra. Tal modelo nos leva a supor que os falantes se referem às entidades, utilizando determinados nomes, por reconhecerem nelas atributos essenciais que a definem. Esses atributos pertencem ao significado das categorias, na linguagem. Tal maneira de pensar tem fundamento na filosofia de Aristóteles.
A teoria dos protótipos postula que as categorias não são estruturas homogêneas. De acordo com evidência experimental (LABOV, 1973; ROSH, 1973-1975; KEMPTON, 1981 E TAYLOR, 1989), as categorias exibem melhor uma estrutura prototípica, ou seja, há bons e maus exemplos. Os membros mais representativos, ou seja, aqueles que os falantes primeiro evocam ao estudar ou ver o nome de uma categoria são os membros centrais os protótipos (melhores exemplos), em torno dos quais, os demais se organizam. Por exemplo, “cenoura” é um membro da categoria LEGUMES.
No que tange ao estudo do significado das unidades lingüísticas, inicialmente, os estudiosos consideravam prototípico o sentido que apresentava maior freqüência de uso. Mais tarde, porém, passou-se a considerar como prototípica aquela acepção que se mantém no percurso de usos, no decorrer do tempo. Assim, por exemplo, o sentido prototípico do item contra é o “adversativo”, que aparece não apenas nos usos espaciais desse item, mas até nos usos mais abstratos.

5. GRAMATICALIZAÇÃO DA PREPOSIÇÃO ANTE
Segundo a. Meillet (1951, s. v. ante), na língua popular, como aparece no século II da era cristã, ante aparece reforçada por uma partícula preposta, como em abante, exante, inante, subante. Conforme R. Poggio (2002, p. 163), “ante é advérbio e preposição com acusativo de lugar e de tempo. No sentido local, diz, sobretudo, de uma coisa que está diante dos olhos, embora essa distinção não seja constante”. Com relação ao tempo, ante pode significar a distância que separa dois momentos subseqüentes, (BLATT, apud POGGIO, 2002).
Para M. Bassols de Climent (1956, p.241), ante é usada com verbos de movimento, para indicar ‘aquilo que se adianta. Ex: Praecurrere ante omnes (‘ correr na frente de todos’).
R. Poggio (2002), menciona em seu livro que a preposição latina ante, passa do seu sentido estritamente espacial, como em ante urbem (‘diante da cidade’), ao sentido temporal, como em ante hunc diem (‘antes do dia de hoje’) e em ante tubam (Virgílio, Em., 11, 424) (‘antes (do toque) da trombeta’), sendo empregada, finalmente, com sentido comparativo, como na sentença ante alios pulcherrimus omnis Turnus (Virgílio, Em., 1.7, 55) (‘Turno, o mais bonito de todos’).
Na gramática de João de Barros, ante é empregada na maioria das vezes no seu sentido espacial na situação diante de, nessa condição encontramos 22 vezes, aparece também no sentido temporal na situação antes de e nessa condição encontramos 13 vezes.
Ante é uma preposição portuguesa vinda do latim, segundo A. G. Cunha (1991, s.v. ante), veio do latim significando ‘diante de’, ‘na presença de’.
J. S. Barbosa (1886, p.217) e E. Dias (1954, p. 157) nos mostram que, no português arcaico médio, ante também designava ‘anterioridade’ no tempo e no espaço. Com esse sentido, no português moderno, conserva-se apenas em algumas locuções, como pé ante pé e em expressões como ante – ontem.
Quanto à gramaticalização da preposição ante, pode-se dizer que:
Segundo R. Poggio (2002, p. 166-167):
a) A preposição ante se manteve na passagem do latim ao português com um índice baixo na fala coloquial e u m índice médio na língua escrita culta; atualmente, observamos seu enfraquecimento semântico e observamos também que, para evitar seu desaparecimento, ela foi reforçada com a preposição de, resultando em diante que compõe a locução prepositiva diante de; ressaltamos na análise, dois processos de morfologização:
• Forma simples ante ˃ (de +ante) ˃ diante
• Estágio intermediário ante ˃ (de+ ante) ˃ diante ˃ diante de
b) “a preposição portuguesa ante entra na constituição da conjunção subordinativa temporal antes que (português arcaico ante que), ocorrendo um processo de recategorização sintática, quanto a forma ante passa a outra classe gramatical”. Ex: (...) E ante que se trate da gramática (...). Gramática de João de Barros (p. 240, l. 50).
c) No português atual, podemos sinalizar a preposição ante observando:
• ‘noção, lugar abstrato’ Estou ante uma situação difícil. (Poggio, 2002)
• ‘marcação de preferência’ Antes lingüística que literatura.
• “nas sentenças subordinadas temporais, antes pode funcionar como sequencializadora dos fatos, como na sentença”: Saia rápido antes que chova.
• “como prefixo” antepor, anteceder

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BARRETO, Therezinha Maria Mello. Conjunções: aspectos da sua constituição e funcionamento na história do português. 1999. 3 v. Tese (Doutorado em Letras). Programa de pós-Graduação em Letras e Linguística. Instituto de Letras, UFBA, Salvador.
BARROS, João de. Gramática da língua portuguesa. 3. Ed. Conforme a 1. Ed. De 1540. Lisboa: Astória., 1957. José Pedro Machado (Ed.).
BASSOLS DE CLIMENT, Mariano. Sintaxis latina. Madrid: C. Bermejo, 1956. T. l.
CASTILHO, Ataliba T. de. A gramaticalização. Estudos: lingüísticos e literários, Salvador, v. 19, p. 25-64, mar. 1997.
FERREIRA, Rita de Cássia dos Santos. Um estudo dos processos de gramaticalização da preposição ANTE no século XVI. 2003, Monografia (especialização em estudos lingüísticos e literários), UFBA.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Estruturas trecentistas: elementos para uma gramática do português arcaico. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da moeda, 1989.
POGGIO, Rosauta Maria G. F. Processos de gramaticalização de preposições do latim ao português: uma abordagem funcionalista. Salvador: EDUFBA, 2002.
SVOROU, Soteria. The Grammar of space.Amsterdam/Philadelphia: john Benjamins, 1993.
SAUSSE, Ferdinand de. Curso de lingüística Geral. Org. por Charlesssss Bally e Albert SSechehaye, colaboração de Albert Riedlinger. Trad. De Antonio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. 7. Ed. São Paulo: Cultrix, 1975.
VOTRE, Sebastião Josué; NARO, Anthony Julius. Mecanismos funcionais do uso da língua. In: MACEDO, Alzira Tavares.

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